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domingo, 23 de janeiro de 2011

Bronquite crónica no cão e gato


Introdução



A bronquite crónica é uma doença inflamatória das vias aéreas que, em associação com o colapso traquebronquial, é provavelmente a causa mais comum de desordem crónica das vias aéreas nos cães. A inflamação existente nas vias aéreas causa tosse crónica e produção excessiva de muco. Tendo em conta que os cães não conseguem expectorar, nem sempre é fácil saber se a produção de muco nas vias aéreas esta aumentada. Sendo assim, o diagnóstico de bronquite crónica é geralmente baseado unicamente na presença de tosse crónica.
Sendo o diagnóstico de bronquite crónica baseado no facto de haver uma tosse diária, necessitamos de excluir outras doenças que também causem tosse crónica, tais como: falência cardíaca, infestação com dirofilaria, pneumonia, tumor pulmonar, entre outras. Isto pode ser complicado já que a bronquite crónica é uma doença predominantemente de animais idosos, que, muitas vezes, podem ter estas outras doenças, em simultâneo com a bronquite crónica. Adicionalmentemuitas drogas usadas para o tratamento de bronquite crónica podem ser inapropriadas e muitas vezes contraindicadas para doenças que não a bronquite crónica.. Assim sendo, o diagnóstico de bronquite crónica tem de ser feito com relativa certeza para evitar potenciais complicações relativas ao tratamento.


Sintomatologia


Cães diagnosticados com bronquite crónica sao geralmente animais com mais de 6 anos de idade, não parecendo haver uma predisposição sexual ou racial marcada se bem que as raças pequenas e toy tais como Caniches e Pugs apresentam muitas vezes Bronquite crónica.
Tal como vimos anteriormente, cães com bronquite crónica tem também uma tosse crónica. Esta tosse é geralmente mais profunda do que a causada pelo colapso traqueal . Para termos a certeza de que, associado a tosse, esta uma produção de muco excessiva, devemos estar atentos se a tosse termina em gagging, deglutição ou engasgamento. Se se verificar estes fenómenos, o cão esta a tossir e de seguida engolindo o muco. (Papel do dono muito importante na anamnese).
Alguns cães com bronquite crónica podem ser completamente assintomáticos, enquanto outros podem apresentar limitações severas a nível de exercício físico devido a sua doença. Esta diferença deve-se, muito provavelmente, ao grau de “fraqueza” da cartilagem apresentada e o colapso das vias aéreas correspondente que ocorre quando o animal facilmente fatigado começa a exercitar. Estes animais apresentam-se alerta e a nível sistémico muito bem, sem quaisquer tipo de outros problemas. Bronquite crónica em cães não causa depressão, letargia, anorexia, entre outros sinais sistémicos de doença. Se estes sinais estiverem presentes devemos considerar outras doenças que causem tosse.

Exame físico


A única evidencia à auscultação em case com bronquite crónica são crackles inspiratórios e expiratórios. A frequência cardíaca é geralmente normal para a idade e raça, podendo-se apresentar por vezes um pouco mais baixa. Uma arritmia sinusal é bastante comum e pode ser apreciada palpando o pulso femoral enquanto se observa o padrão respiratório do animal.


Testes diagnósticos


Tendo em conta que a bronquite crónica é baseada na história de tosse crónica, são apenas necessários os testes de diagnóstico que nos ajudam a determinar a presença de outras doenças que também causem tosse.

Radiografias torácicas: Radiografias torácicas de cães com bronquite crónica podem apresentar um aspecto normal, o que não descarta a possibilidade de bronquite crónica. Na maior parte das vezes estas radiografias apresentam um padrão de “linha de comboio” e/ou “doughnuts” que são paredes brônquicas espessadas e proeminentes paralelas entre si.

Citologia Broncopulmonar: As células predominantes que se podem observar nas lavagens traqueais são os Neutrófilos (a presença destas células nem sempre indica que estamos perante uma infecção; bactérias intracelulares e/ou neutrófilos tóxicos indicar-nos-iam, sem sombra de dúvida, uma infecção bacteriana). O Muco é geralmente abundante, mesmo quando a amostra é pequena, um pequeno número de linfócitos, eosinofilos e células epiteliais são também visíveis nas amostras.
Macrofagos alveolares podem também ser encontrados em várias formas morfológicas tanto em cães normais como em cães com bronquite crónica. Técnicas como a lavagem broncoalveolar permitem que o fluido de lavagem entre em contacto com a superfície do pulmão resultanto numa maior percentagem de macrofagos na amostra do que numa lavagem traqueal. Independentemente da técnica usada, os macrofagos alveolares são um achado perfeitamente normal e não devem ser interpretados como um sinal de inflamação broncopulmonar ou doença.

Cultura Traqueobronquial: O diagnostico presuntivo de bronquite “bacterial” é normalmente efectuado quando culturas de amostras das vias aéreas apresentam uma população variada de bactérias aeróbias. Convém lembrar que as vias aéreas das espécies estudadas (cães, gatos, humanos entre outras) retém sempre algumas bactérias ao longo do dia, esta é uma das razoes por que tossimos e “aliviamos” a garganta. Na nossa experiência aqui no hospital, as bactérias que se nos presentam das vias aéreas de animais com bronquite representam uma colonização inócua em vez de uma infecção.

Broncoscopia: As vias aéreas de cães com bronquite crónica são sempre eritematosas e normalmente apresentam um aspecto granular ou “áspero”. A mucosa encontra-se normalmente espessada, irregular e edematosa. Um Muco espesso e excessivo pode estar presente no lúmen, podendo inclusive ocluir as vias aéreas mais pequenas.
O colapso da membrana dorsal da traqueia para o lúmen é relativamente comum em animais com Bronquite Crónica. Assim sendo, este achado não exclui Bronquite Crónica mas sim uma associação entre as duas patologias. Outro achado surpreendente em cães com bronquite crónica é o colapso das vias aéreas intra-torácicas durante a expiração passiva. Esta evidencia pode não ser aparente das radiografias torácicas mas não pode deixar de ser visto na endoscopia, com a visualização em tempo real a não deixar duvidas quanto ao fenómeno. Com o passar dos anos aqui no nosso Hospital fomos aprendendo que estes animais respondem limitadamente a terapêutica e normalmente apresentam um prognostico mais limitado.


Biopsia e Histopatologia: Bronquite crónica é um diagnostico clínico e não necessita de biopsia para confirmação. Ainda assim, existe umas certas características histopatológicas da bronquite crónica tais como hipertrofia das células de Goblet, infiltração de células mononucleares e aumento de tecido conectivo na lamina própria.


Opções terapêuticas


Inflamação bronquial crónica, independentemente da causa, causa espessamento das mucosas das vias aéreas, hipersecreção de muco e algum grau de constrição do músculo liso. Os restantes sinais as características principais da bronquite crónica canina e incluem tosse e intolerância ao exercício. O tratamento primário de bronquite crónica e baseado no controlo da inflamação das vias aéreas.


Corticoesteróides:


Glucocorticoides tem sido usados no tratamento de humanos com doenças brônquicas nos últimos 50 anos. São claramente, o tratamento mais efectivo para esta doença ainda que os suas contra-indicações como factores debilitantes limitem o seu uso. Ainda que os corticoesteriodes não sejam primariamente antitussicos, ao diminuírem a inflamação podem diminuir a estimulação dos nervos sensoriais das vias aéreas que são responsáveis pela tosse na Bronquite crónica canina. Adicionalmente, os corticoesteriodes diminuem o volume de muco produzido pelas vias aéreas inflamadas.


Broncodilatadores:


Faria sentido usar broncodilatadores para tratar cães com Bronquite Crónica se verificássemos que havia uma broncoconstrição que levasse a apresentação de sinais clínicos típicos. Há pouca razão paraacrediatarmos que tal acontece na maioria dos cães com Bronquite Crónica, existe apenasum estudo (de rigor duvidoso) que determina o uso de broncodilatadores em Bronquite Crónica e ainda ssim , apenas um em cadasete animais apresentava uma resposta positiva à terapêutica. Pelo outro lado, a adiminstraçãode broncodilatadores inaláveis é uma terapeutica segura e de fácil recurso.

Antibioticos:


A infecção bacteriologica nao representa um popel importante na maior parte dos casos de Bronquite Cronica canina. Uma cultura positiva obtida de uma lavagem traqeobronquial não implica necessariamente a presnça de uma infecção das vias aéreas e não deve levar a uma antibioterapia a não ser que uma cultura bacteriana pura tenha sido obtida numa cultura primaria.


Supressores da tosse:


A inflamação crónica das vias aéreas leva a produção de muco espesso, provavelmente, como um mecanismo de protecção que tenta impedir que o agente irritante chegue aos pulmões. A tosse é muito importante para expulsar o muco e deve ser vista como um reflexo fisiológico de protecção. Ainda assim, em muitos casos a tosse existente é seca e não produtiva, nestas situações a tosse não funciona como protecção mas sim como mais uma forma de irritação das vias aéreas levando a um circulo vicioso de tosse-irritação-tosse. Esta situação pode levar a que o cão não consiga dormire em muitos casos impeça os donos de dormir também. Ocasionalmente alguns cães com tosse crónica podem apresentar sincopes. Em animais com estes sinais clínicos a supressão da tosse pode ser indicada.


Outras drogas:

Mucolíticos tem sido sugeridos na terapeutica da bronquite cronica. Enquanto drogas como a acetilcisteina são capazes de quebrar as ligações responsáveis pela natureza viscosa do muco, a acetilcisteina como aerosol (tal como e normalmente usada) é irritante para o epitelio e pode promover uma broncoconstrição significativa.


Prognostico e conclusão:

A bronquite cronica canina é uma doença das vias aéreas crónica e progressiva. Os sinais clínicos podem ser melhorados substancialmente mas a estamos perante uma doença incurável. É fulcral que exista uma boa comunicação entre o veterinário e o cliente para que este consiga obter uma visão realista da doença e para que a terapêutica seja escrupulosamente cumprida.


Informações: http://www.hvp.pt/2010/03/16/bronquite-cronica-no-cao-e-gato/

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